Retrospectiva técnica da Web3 em 2024

Web3 e Blockchain

Retrospectiva técnica da Web3 em 2024

Luiz Duarte
Escrito por Luiz Duarte em 31/12/2024
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Último dia do ano, dia de retrospectiva, certo? Mas que tal uma retrospectiva técnica, com a visão de dev, de como foi o ano de 2024? A ideia aqui não é falar de acontecimentos, mas sim e entender o mercado, as tecnologias e usar disso tudo para se preparar melhor para o ano que vem, visando crescer mais na carreira como dev web3/blockchain ou em nossos negócios neste ecossistema.

Para não ficarmos em “achismos”, separei aqui três pesquisas de mercado muiti relevantes e confiáveis. Assim, quer você goste ou não da minha opinião, contra fatos não há argumentos, certo? A primeira pesquisa é a “Developer Report“, da Electric Capital, um fundo de investimento em startups web3. A segunda pesquisa é a “Solidity Developer Survey“, da SolidityLang.org, fundação mantenedora da linguagem Solidity. E embora você possa achar que a segunda pesquisa será tendenciosa a favor de Ethereum e Solidity, você verá que a primeira corrobora com os principais pontos, mostrando a idoneidade da mesma. A terceira e última pesquisa, que usarei mais ao final da retrospectiva, é a “Crypto Market Outlook“, da Coinbase.

Além disso, você irá reparar que a pesquisa da SolidityLang.org é de 2023, eles começam a pesquisa em dezembro e lançam os resultados em abril do ano seguinte, sendo que na data que estou escrevendo este artigo tem apenas 1 dia que abriram a pesquisa para participantes responderem (eu fui um deles!). Assim, teremos uma visão de abril/24 e outra de dezembro/24, ok? Já a pesquisa da Coinbase tenta fazer algumas projeções para 2025 e anos seguintes, então na média todas elas se complementam.

Ao término deste artigo de retrospectiva, listarei onde pode estudar sobre os tópicos apresentados. Se preferir, você pode assistir ao vídeo abaixo, possui o mesmo conteúdo do artigo.

Vamos lá!

#1 – Metodologia e Demografia

Antes de entrar nos pormenores técnicos pode ser interessante darmos uma olhada na metodologia e demografia de ambas pesquisas.

A Electric Capital conseguiu 339 respondentes, enquanto que a SolidityLang conseguiu 474. Não são números gigantes, mas também estamos falando de um mercado em early stage, são cerca de 23k usuários trabalhando ativamente em projetos web3 no GitHub (ao menos 1x por mês), logo esse volume representa uma parcela considerável dos desenvolvedores web3 existentes. Além disso, a Electric alega ter analisado 1.7MM de repositórios no GitHub com 902MM de commits, assim, mesmo quem não respondeu a pesquisa colaborou de alguma forma e engrandeceu a pesquisa.

Em ambos os casos, os EUA figuram como o país como mais respondentes (~18%), enquanto que a Índia figura em segundo (~10%) com a Ásia em geral sendo o continente com mais devs web3 (a cada 3 devs web3, 1 está na Ásia). O Brasil infelizmente não figura nem entre o top 10 países com mais desenvolvedores, mesmo sendo o quinto maior do mundo em tamanho e o sétimo em população, perdendo inclusive para a Argentina, que está em #13. No entanto, entre os países com mais novos desenvolvedores em 2024 estamos em #8 (eu estou fazendo a minha parte, hehe).

Sobre empregabilidade, 65% dos devs Solidity estão empregados, destes, 70% trabalham com web3, enquanto que 13% estão apenas estudando no momento.

No caso da pesquisa da Coinbase, ela não é exatamente feita por desenvolvedores, é a menos técnica do ponto de vista de programação, focando mais no mercado mesmo, por isso falarei de alguns pontos dela mais ao final.

Roadmap Web3
Roadmap Web3

#2 – Redes e Ecossistemas

O ecossistema #1 segue sendo o Ethereum e a linguagem de smart contracts, Solidity. Neste ecossistema, a segunda rede mais usada é a Polygon (20% dos devs ETH também usam Polygon), mas a rede de destaque este ano foi a Base, rede L2 da corretora americana Coinbase, com mais de 40% dos novos projetos EVM sendo desenvolvidos para ela e figurando como a EVM L2 mais popular do ano. Não é coincidência, mas na América do Norte a Base já figura no top 3 de redes, roubando o lugar da Polygon, que é seguida de perto por redes como Polkadot, Near e ICP.

Em segundo lugar geral vem o ecossistema da Solana, que foi o que mais cresceu em número de novos desenvolvedores este ano, muito impulsionada pela quantidade de novos desenvolvedores indianos. É a primeira vez desde 2016 que um ecossistema concorrente vence a Ethereum em número de novos devs. Na Índia inclusive a Solana já é a rede número 1 em número de desenvolvedores.

Outras redes dignas de serem mencionadas são Aptos, Bitcoin, Sui e Starknet, com ao menos 1000 novos desenvolvedores este ano, cada uma. As demais, conseguiram cerca de metade disso ou menos. Desta lista, vale lembrar que no caso do Bitcoin os devs costumam trabalhar em melhorias da rede mesmo e não em projetos web3, sendo mais de 42% dos projetos focados em aumentar a escala da rede, por exemplo.

A escolha pelo ecossistema da Ethereum é natural, não apenas por ele ser o primeiro como ser o que permite mais facilmente o desenvolvimento multi-chain. 1 a cada 3 desenvolvedores tem de trabalhar com mais de uma rede, por isso que 74% deles preferem trabalhar com o padrão da Ethereum, o EVM. E se você está pensando em trabalhar com EVM e Solana, você estará entre os ~9% de desenvolvedores que conhecem esses dois ecossistemas.

Curso Beholder
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#3 – Stacks e Linguagens

O uso de stacks e linguagens acaba sendo uma extensão dos resultados das redes, certo? A stack EVM por exemplo, com sua linguagem Solidity, possui 3.6x mais desenvolvedores que a segunda colocada, a stack SVM (Solana) com a linguagem Rust.

Isso é ainda mais brutal na pesquisa da SolidityLang, onde temos +10x mais desenvolvedores Solidity do que Rust (42.9% x 3.5%). Como a referida pesquisa deixa mais aberto para o respondente colocar a linguagem de programação que mais usa, também temos JS e TS em destaque, em virtude da sua onipresença na web3 em geral (afinal, envolve muito frontend). Então se você sabe Solidity + JS/TS, você conseguiria trabalhar com 75% dos devs que responderam à pesquisa.

Quando entramos no campo de ferramentas, temos o uso esmagador do VS Code como principal ferramenta entre os devs que trabalham com Solidity, com 77%. Curiosamente, este ano o Remix nem aparece mais entre os respondentes, provavelmente tendo ido parar no “Other”. Em conjunto com o VS Code, as extensões mais populares são a Solidity do Juan Blanco e a Solidity da Nomic Foundation (criadora do HardHat).

Já que falamos no HardHat, que tal vermos os toolkits mais usados para ecossistema Ethereum? Se você acompanha essas pesquisas como eu, há alguns anos, deve lembrar que já tivemos Truffle no topo e HardHat bem pequeno, lá em 2022. Depois, em 2023, HardHat encostou em Truffle e com o anúncio do fim do projeto pela ConsenSys, neste ano de 2024 o Truffle mal aparece, com toda sua base tendo migrado para HardHat ou Foundry.

Outro destaque vem justamente para o Foundry, que no ano passado estava bem atrás do HardHat e agora já podemos considerar um empate técnico. Minha escolha pelo HardHat ainda tem tudo a ver com o gráfico de linguagens: se você já sabe JS/TS, usar o HardHat é muito mais amigável do que ter de aprender Rust pra usar Foundry.

#4 – Destaques

Para encerrar, vamos falar de alguns tópicos de destaque deste ano e que devem ficar no seu radar para 2025. Em abril deste ano tivemos mais um halving do Bitcoin, evento quadrienal que corta pela metade as recompensas aos mineradores da rede, diminuindo a oferta de novas moedas no mercado e consequentemente pressionando os preços pra cima. Com isso, muita coisa começa a se mexer no ecossistema web3 como o surgimento de novos mercados, novas empresas, projetos, etc.

Para começar, Zero Knowledge Proof ou Prova de Conhecimento Zero. Esta técnica que permite a validação de dados sensíveis sem expô-los na blockchain foi um dos grandes destaques do ano, tendo em vista o crescimento da blockchain em setores que possuem muitos dados do tipo, como governos. A demanda por zkProof aumentou cerca de 16x nos últimos 4 anos, sendo que atualmente temos pouco mais de 800 devs web3 trabalhando ativamente em projetos do tipo no GitHub. As redes mais usadas para zkProof são Starknet, Polygon zkEVM, ZKSync, Linea e Scroll.

Na sequência, vale citarmos o mercado de NFTs também. Sim, se você achou que NFT morreu depois de 2020-21 você está enganado, com novembro de 2024 marcando um mês recorde (ATH) com 130k novos deploys de contratos NFT nas redes, sendo Base e Solana as redes que mais tiveram NFTs mintadas esse ano e um total de mais de 300k wallets ativas negociando tais ativos mensalmente (65MM no ano). Outras redes com movimentação foram Zora (que surgiu em 2024), Bitcoin, Ethereum e Polygon. Sim, Ethereum Mainnet não figura na lista: ela caiu de 70% para 2% de marketshare no mercado NFT em menos de 2 anos. Então se você achava que era tarde demais para lançar algum projeto NFT, bem, não é.

Ainda dentro do conceito de NFTs mas fugindo do que mais aparece na mídia, o relatório da Coinbase fala do mercado de tokenização, em especial os RWA (Real World Assets ou Ativos do Mundo Real), que cresceu 60% esse ano, para $13.5B. Expectativas pessimistas falam de uma expansão pra $2T nos próximos 5 anos, já que instituições financeiras como BlackRock e Franklin Templeton já aderiram, principalmente para uso como colaterais em transações de derivativos. O maior desafio: s regulamentações, então fique de olho nelas.

Agora vamos falar de DeFi, um dos maiores mercados quando o assunto é web3. Ethereum Mainnet segue sendo a rede mais forte para DeFi, com 7x mais TVL (Total Value Locked ou “dinheiro alocado em protocolos”) do que a segunda colocada, Solana, sendo Re-Staking o submercado de destaque em DeFi neste ano (que surgiu em 2023 aliás), como o que mais cresceu e o quarto em TVL, a exemplo da Etherfi. Embora seja considerado um risco sistêmico pelo próprio criador da Ethereum, Vitalik Buterin, segue crescendo.

Outros submercados em destaque são Lending, que segue sendo o maior de DeFi, e LST (Liquid Staking Token), o número 2 em TVL. Agora quando o assunto são as DEX, próximo submercado na lista dos maiores, a Solana passou a Ethereum Mainnet como rede favorita, tendo 81% dos swaps no ano. No entanto, se considerarmos o volume transacionado (e não a quantidade de transações), a soma da Ethereum Mainnet e suas L2 é mais que o dobro do volume da Solana. Aliás, 53% dos devs DeFi trabalham em redes EVM. Tirando as gigante Ethereum Mainnet e Solana da jogada, temos como destaques no setor DeFi as redes BNB e Tron, com 11% do bolo restante cada uma. Importante ressaltar que apesar de Lending ter mais TVL, o setor de DEX é o que mais tem usuários ativos (72x mais). Só na Solana por exemplo tivemos 1.7MM de carteiras usando dex esse ano, seguida pela Base com 236k.

E se você está se perguntando como o povo tem transacionado tanto, o relatório da Coinbase explica: trading bots via Telegram foram uma febre em 2024, principalmente operando na Solana devido à alta velocidade e o foco em meme tokens de baixíssimo valor. Para os criadores desses bots, este foi um bom ano com os maiores, como o Photon, tendo lucrado mais de $210MM com as taxas de uso, quase a mesma coisa que a maior memcoin da Solana, Pump ($227MM).

O relatório da Electric ainda traz dados sobre stablecoins, como o fato de termos tido recorde histórico de uso este ano, com $196B de supply (59% na Ethereum Mainnet, 72% sendo USDT) e $81B transacionado diariamente, tendo fechado o ano com cerca de $27.1T transacionados. O relatório da Coinbase reforça ainda que o mercado de stablecoins cresceu 48% esse ano e deve chegar a $3T nos próximos 5 anos, que é o tamanho atual do mercado cripto inteiro.

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#5 – Conclusões e Referências

Obviamente cada pessoa pode tirar suas próprias conclusões técnicas sobre estes dados das duas pesquisas, mas quero apresentar algumas conclusões minhas baseado no que vi ao longo do ano e que espero para 2025. Primeiramente, sigo firme na minha convicção de que começar e se especializar na stack EVM antes de qualquer outra segue sendo a melhor estratégia. Aprender Solidity para smart contracts, por exemplo, segue sendo a melhor escolha. Agora quando o assunto é toolkit e segunda linguagem, tem dois caminhos possíveis.

Segundo, se você vai trabalhar com web3 em geral, o que inclui frontend, acredito que o caminho Solidity + JS/TS + HardHat seja o ideal para quem está começando. Já se você quer trabalhar apenas com smart contracts (mais arriscado no momento, pois tem menos vagas BR), escolher apenas Solidity + JS/TS + HardHat ou Solidity + Rust + Foundry podem ser ambas boas opções, com a segunda interessante se você já quer se preparar para Solana, que é o que quero falar a seguir.

Após obter um bom conhecimento em EVM/Solidity você tem de aprender ao menos o básico de SVM/Rust. É inegável o crescimento absurdo da Solana nos últimos anos principalmente em virtude da sua velocidade e taxas. Repito: ainda acredito que começar por EVM/Solidity seja o melhor, mas pegue o básico de SCM/Rust assim que puder.

Sobre setores, para empreender o céu é o limite, mas para trabalhar como dev empregado, no BR os setores com maior potencial são os que usam HyperLedger, como os ligados ao Drex e ao CIN, como governos, bancos, financeiras e empresas de logística, além é claro das corretoras com escritório no Brasil e tokenizadoras. Agora falando de mundo, DeFi e NFT seguem sendo os mercados com mais oportunidades, como já citei em outro artigo.

E se você quer aprender programação para blockchain e web3, já sabe né, tem meu blog, meu canal, meu livro e meus cursos, segue abaixo.

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