Todo mundo que foi nos últimos meses em qualquer livraria do Brasil deve ter visto um fenômeno interessante: muitos livros de celebridades que talvez você não conheça, sendo vários deles relacionados a jogos. São os livros de youtubers, a profissão mais sensacional do momento para os jovens brasileiros. Jovens que ganham a vida (e muito bem aliás) gravando vídeos sobre seu cotidiano, sobre variedades, humor, games e muito mais e que recentemente tem sido convidados por editoras de todos os tamanhos para escrever livros com conteúdo semelhante ao dos canais.
Eu sei que isso não tem muito a ver com startups ou com desenvolvimento de software (ou será que tem?), mas com certeza tem a ver com empreendedorismo. Não vou entrar aqui em detalhes sobre os canais em si (talvez em outra oportunidade), mas vou dar a minha opinião sobre as publicações, visto que todo mundo está opinando sobre isso (tanto pró quanto contra) e visto que eu lancei recentemente a versão impressa do meu guia sobre Pokemon Go na Bienal Internacional do livro em SP e que está à venda na Saraiva e tenho sido questionado sobre a “validade” de se lançar um livro como este.
Por que um youtuber lança um livro
Não sei exatamente o motivo, embora provavelmente a parte financeira seja uma delas. Tiro aqui conclusões próprias baseadas em minha própria vivência.
Lançar um livro é perpetuar seu trabalho. Especialmente em um mundo tecnológico e efêmero como o nosso, onde tu vem e vai rapidamente, lançar um livro impresso é meio como deixar sua marca no universo. Soa piegas, mas é mais ou menos isso que sinto. Tenho extremo orgulho de minhas três publicações (em breve 4!), sendo que duas nem chegaram a existir na versão impressa (ainda).
Lançar um livro é “tocar” a sua audiência de outra maneira. Como figuras públicas, imagino que os youtubers (assim como eu enquanto blogueiro, embora bem menos conhecido 😛 ) desejam estar próximos de sua audiência. Comprar o livro de alguém que você admira é prestigiar o trabalho da pessoa e os youtubers provavelmente se sentem mais “queridos” porque as pessoas, especialmente os jovens, compram seus livros.
Lançar um livro é um empreendimento. Falei disso antes e não sou hipócrita em achar que não há interesse financeiro nisso. Embora os royalties de um livro impresso sejam inferiores aos livros digitais (15% nas editoras vs 35-70% na Amazon), eles alcançam um público muito maior. Muitos vão torcer o nariz pra isso, mas 98,5% das vendas de livros no país ainda são feitas na mídia impressa e esses são dados atuais.
Agora que já expus alguns motivos, vamos tentar entender se isso é bom ou ruim.
Bom ou Ruim?
Para formar uma opinião, vamos tecer algumas perguntas meio polêmicas.
Livros de youtubers abarrotando livrarias são um problema pra você?
Pra mim não. Sempre haverá espaço para todos no mundo editorial. Lê quem quer, e o que quiser ler. Enquanto não obrigarem meu filho a ler livro de youtuber na escola, não vejo problema algum. Note o uso da palavra ‘obrigar’.
Crianças e adolescentes (até mesmo alguns adultos tardios) iniciando no mundo da leitura através de livros simples e de pouca profundidade são um problema pra você?
Pra mim não. Todos temos o direito de escolher ler o que quisermos. E ninguém começa escolher lendo Dostoievski, Goethe ou mesmo Machado de Assis. Muita gente detesta ler simplesmente pelo motivo de tudo o que lhe apresentaram até hoje foram apenas os clássicos, que são difíceis de engolir na época da escola (alguns até hoje).
Youtubers ganhando mais do que você e eu com venda de livros são um problema para você?
Pra mim é. Ao menos um pouco (estou sendo sincero). Mas talvez para algumas pessoas isso incomode muito e aí que entra talvez o principal ponto das críticas quanto aos livros de youtubers. Será que esses críticos realmente estão preocupados com a qualidade da leitura dos nossos jovens? Será que eles também criticam que 50 Tons de Cinza era vendido na frente das livrarias pra qualquer jovem que quisesse comprar? Será que também criticam que 90% dos best-sellers da Amazon para Kindle são romances água-com-açúcar (ou com afrodisíaco em alguns casos) que não deixam nada a desejar para as novelas da Globo?
Se você é um deles, apenas reflita. Não precisa me responder.
Minha resposta é: não me incomoda. Enquanto for uma leitura adequada à faixa etária da audiência de cada youtuber, não me preocupa nem um pouco se crianças de 9 anos lançam livros que vendem 2000 cópias por semana. Muito pelo contrário, invejo elas (ou seus pais espertalhões, sei lá).
E meu livro de Pokemon Go?
Porque escrevi tudo isso? Por causa do meu livro de Pokemon Go que foi lançado esta semana na Bienal Internacional do Livro em SP, onde estarei no sábado dia 03/09 em um bate-papo bem bacana no estande da Editora Única/Gente, e depois no dia 04/09 na FNAC do Barra Shopping Sul.
Recebi duras críticas sobre ter publicado um livro de Pokemon Go. Posso resumi-las, e rebatê-las, em alguns tipos bem comuns.
Crítica 1: Estou enganando as pessoas.
Besteira. É um guia de como jogar o jogo, como evoluir seus Pokemons, cuidados ao se jogar o jogo nas ruas de sua cidade, como usar os itens, onde encontrar os pokemons, etc. Não tem falsas promessas e enganação nenhuma, é um guia não oficial do jogo. Ponto. Não ensino nada ilegal no jogo, mas ensino a aproveitar melhor as oportunidades. Alguns dizem que engano as pessoas pois traduzi muito material estrangeiro para escrever e disse que é meu. Claro que “bebi” de fontes estrangeiras, li os 5 ebooks bestsellers da Amazon americana e incontáveis blogs estrangeiros sobre o assunto, o que me permitiu juntar informação suficiente e lançar o livro 15 dias antes do jogo chegar aqui. Nunca escondi isso. De lá pra cá, até o lançamento da versão impressa, tinha coletado muitas informações novas exclusivas de fontes brasileiras: jornalistas, youtubers, amigos, etc.
Crítica 2: Todo esse material tem na Internet.
Sim. Todos os livros de Harry Potter têm na Internet também. Todas as músicas de qualquer banda tem na Internet também. Todos os filmes de qualquer ator também. Compra o livro, o CD ou o DVD se você quiser ter uma cópia sua, física, tangível. Caso você queira prestigiar o trabalho do autor. E sempre gosto de dizer que é um guia para se carregar dentro da sua mochila de treinador Pokemon durante as caçadas, já que estará usando a Internet do celular para jogar. 🙂
Crítica 3: Ninguém precisa de um guia de Pokemon Go.
Ninguém precisa de um guia de nada na vida. Mas as pessoas compram guias para saber como viver suas vidas o tempo todo, auto-ajuda é a categoria que mais vende. Porquê? Os guias facilitam diversas tarefas e, jogar jogos, é uma delas. Pokemon Go possui uma curva de aprendizado pequena para começar a jogar e grande para dominar, principalmente para aqueles que não dominam o idioma Inglês. O livro ajuda bastante nisso. Ninguém precisa do guia que escrevi, mas que é útil, não tenho dúvidas.
Isto posto…
Por que escrevi um livro de Pokemon Go?
Gosto de Pokemon desde seu lançamento no Brasil na década de 90. Eu estudava em horário integral então não podia ver na Eliana (Record), então eu via no Cartoon Network às 17h. Só que eu saía às 17h da escola e tinha de correr para chegar em casa antes do primeiro intervalo e perder o mínimo possível do episódio. Eu tinha os cards oficiais, caríssimos, a cada aniversário conseguia ganhar um deck apenas. Tinha mangás. Miniaturas. Álbum de figurinhas. Só não tinha o GameBoy mesmo pra jogar de verdade, hehehe. O que quero dizer é que realmente sou um fã de Pokemon, por mais estranho que um professor universitário de 28 anos, casado e com um filho, possa parecer dizendo isso.
Segundo, eu gosto de jogar Pokemon Go. Embora quase não tenha tempo e esteja neste momento apenas no nível 6 no jogo com poucas dezenas de Pokemons na PokeDex, eu realmente acho o jogo muito bacana. Às vezes dou uma volta maior no caminho da padaria só pra chocar uns ovos e pegar uns Pidgeys pra transformar em candy. Fiquei muito feliz com o lançamento no Brasil e já estava jogando para escrever o livro muito antes de muito hater por aí.
E terceiro, para mim o livro, inicialmente digital e agora impresso, é um grande empreendimento para entender esse universo editorial e de info-produtos. Tenho aprendido muito com a produção, lançamento, vendas, parcerias, distribuição e etc e ainda vou aprender muito mais. Escrever um livro era uma vontade antiga e entrou como prioridade este ano não apenas por causa do lançamento do Pokemon Go, mas sim, eu aproveitei a oportunidade de lançar e ser o primeiro autor nacional com um livro sobre o assunto. Como empreendedor, eu não poderia perder a oportunidade de ganhar dinheiro com algo que gosto e que vi muito potencial na ocasião.
Espero voltar em breve a escrever sobre o assunto, desta vez sobre como foi a aventura de publicar este livro, desde a concepção da ideia até o (espero) final feliz.
Olá, tudo bem?
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