Transformação Ágil, muitas vezes chamada de Jornada Ágil ou Virada Ágil é o processo pelo qual uma empresa sai de um estado A, onde seus processos são tradicionais, sua estrutura organizacional é rígida e sua cultura é conservadora para um estado B, onde seus processos são ágeis, sua estrutura é dinâmica e sua cultura é inovadora.
Desta forma, entende-se que uma Transformação Ágil não refere-se tão somente a inovação em processos de desenvolvimento de software e tão pouco somente à forma como a empresa gere os seus projetos. Isso eu chamaria apenas de “Adoção do Ágil” ou “Implantação do Ágil”.
Enquanto que Scrum é um framework ágil muito utilizado para construção de produtos complexos e inovadores, agilidade em um contexto mais amplo como uma transformação real é algo que vai além da construção de produtos e portanto transcende o Scrum ou qualquer outro framework/método ágil, está mais ligado à essência da agilidade.
A ideia deste artigo é justamente colocar um pouco de luz a este tema. Ou pelo menos a minha interpretação do que tenho vivido a respeito na última década à frente de times ágeis.
Ou talvez apenas te instigar a sair da zona de conforto.
Projetos x Produtos
O ponto mais óbvio neste tópico é a mudança na forma como os projetos da empresa são conduzidos. Ou melhor, os produtos. Isso porque em uma empresa ágil, o desenvolvimento de software não inicia quando o time é formado para executar o projeto e finaliza quando o projeto é entregue. Ele inicia com a concepção do produto e só finaliza quando o produto é descontinuado.
As empresas mais inovadoras da atualidade foram construídas ao redor de produtos, e não de projetos. Pense em Google, Netflix, Amazon, Uber, Spotify, Apple…Todas são empresas produtizadas ao invés de projetizadas.
Claro que você pode entender o ciclo de vida de um produto como uma série de projetos interligados e talvez você até conduza desta forma dentro da empresa. Ainda assim, o foco e a cultura tem de estar olhando o macro, e não no micro.
Grandes empresas são construídas ao redor de grandes visões de produto.
Essa linha de raciocínio rompe com uma cultura imediatista à qual muitas organizações estão presas desde séculos passados, onde o que importa é o hoje, é a aparência de sucesso, é a sinaleira toda verde. Mesmo que por trás daquele belo projeto em dia, esteja um produto que não atende ao cliente de verdade. Outcome deve vir à frente de Output, sempre!
Um produto bom, mas atrasado no cronograma, ainda vende. Mas o que dizer de um produto ruim entregue “em dia”?
Nem tanto ao céu, nem tanto à terra, alguns diriam. Mas parte da Transformação Ágil é desapegar do modelo de gestão de projetos para entrar de cabeça no modelo de gestão de produtos.
Seus clientes agradecem.
Processos x Cultura
Alguém muito mais inteligente que eu disse certa vez que “cultura come processos no café da manhã”. Acho que foi William Demming, ou talvez Peter Drucker, não recordo agora.
Nas empresas tradicionais, os processos costumam ser fixos, isso quando sequer existem. Não raro, um “processo” na verdade é uma “pessoa” que resolve determinado problema de maneira artesanal. Quando existe, os processos costumam ser rígidos e inflexíveis, muitas vezes sendo usado como muleta ou como escudo, em ambos os casos, garantem a paz de espírito de alguns sobre uma pilha de ineficiência para todos.
Pode soar um tanto anarquista, mas atire a primeira pedra quem já demorou mais para abrir um chamado do que a pessoa do outro lado levou de tempo para resolver o seu problema?
Não estou pregando aqui uma cultura anti-processual, mas sim que a mudança para um Lean-Agile Mindset exige a revisão de processos e não somente de desenvolvimento de software. Pois o desperdício não pode ser combatido somente localmente, ele tem de ser parte da Transformação como um todo.
Uma Transformação Ágil instiga a melhoria contínua de processos existentes e o desenho de processos inteiramente novos para atender a necessidades emergentes da companhia. Enraíza na cabeça das pessoas novos hábitos, novas formas de resolver os problemas e principalmente, provoca maior colaboração.
Que bela maneira de dizer “mudança de mindset”, hein!
Coordenação x Colaboração
Além de mudar a dinâmica de trabalho do dia a dia através de novos processos e um design deliberado de uma nova cultura, uma verdadeira Transformação revoluciona a forma como a empresa organiza sua estrutura organizacional, as relações entre os profissionais e a forma como os desafios são conduzidos e resolvidos.
Enquanto que em uma estrutura verticalizada e hierarquizada as prioridades e definições são completamente top-down, pouco ou quase nada da capacidade intelectual dos profissionais é aproveitada neste modelo de trabalho gerando novamente ineficiência.
Se é para micro-gerenciar, porque insistem em querer contratar mega-profissionais?
Steve Jobs disse certa vez que na Apple eles contratavam pessoas inteligentes, não para lhes dizer o que fazer, mas para que essas pessoas dissessem à Apple o que precisava ser feito.
Pode ser apenas uma frase de efeito, mas alguns dos produtos mais incríveis que tive o prazer de atuar na construção foram construídos de maneira colaborativa e não impositiva. Juntamos negócios, tecnologia, operação, design…e do outro lado sai o que há de melhor dentro de cada um de nós.
A coordenação tem um papel fundamental aqui, mas não o de ordenar, mas de servir. Prover aos times o ambiente, recursos e confiança necessários para que eles façam o que sabem fazer. Façam o que foram contratados para fazer.
Afinal, se não confia nas pessoas que contratou, porque o fez afinal?
Liderar sem comandar é uma arte sutil e que poucos gestores possuem o dom. Nada é mais cômodo que comando-controle. E nada mais ultrapassado também.
É importante ressaltar, até para finalizar este artigo, que sem quebra de paradigmas ou mudança de status quo não há qualquer transformação, seja ela ágil ou não. Não há transformação estando dentro de uma zona de conforto, sem transformar pessoas, por isso os Agile Coaches são tão necessários.
E eu diria mais: no fim das contas, uma Transformação Ágil é principalmente sobre transformar pessoas.
Porque no fim do dia, uma empresa é feita pelas pessoas que trabalham nela.
Um abraço e sucesso.
Para mais sobre Transformação Ágil na prática, leia esta série de posts. Para aprender Scrum e Métodos Ágeis comigo, clique no banner abaixo.
Olá, tudo bem?
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