4 anos de Busca Acelerada em 10 lições

Carreira

4 anos de Busca Acelerada em 10 lições

Luiz Duarte
Escrito por Luiz Duarte em 31/07/2016
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Hoje, dia 31/07/2016, o meu projeto Busca Acelerada completa 4 anos. Na verdade é mais que isso. A ideia original é de 2010, no final da minha faculdade, mas somente em 2011 que eu coloquei o projeto no ar pela primeira vez, conforme relato neste post. Foi um fracasso do ponto de vista tecnológico, mas que gerou muito aprendizado. Em 2012, após um curso que fiz sobre Lean Startup, entendi onde havia falhado e ganhei novos aliados para fazer o projeto sair do papel novamente e, em 31/07/2016, o Busca foi ao ar novamente e está no ar desde então.

Hoje, 4 anos, dois prêmios, um investimento e vários sócios depois, publico aqui no blog uma palestra que dei em 2015, quando a empresa fez 3 anos e nossa equipe se desfez, deixando de trabalhar em tempo integral no projeto. Espero que as 10 lições que aprendi em todos esses anos sirvam para os leitores que possam estar criando suas próprias startups para que não cometam os mesmos erros.

Ao término do post tem os slides da palestra.

00#1: Mantenha as portas abertas

Sempre tive em mente que nada tem de ser irreversível. Quando planejei sair da RedeHost, a empresa que trabalhei durante 5 anos antes do Busca, queria que tivesse algum lugar para voltar caso tudo desse errado. Sai numa boa, avisando com antecedência, ajudando a encerrar os projetos e delegar minhas tarefas. Além disso, os contatos que criei nos primeiros 6 anos como profissional de TI me garantiram mais que isso.

Um de meus objetivos quando deixei meu emprego era reduzir aos máximos os custos fixos que eu tinha todo mês, já que eu não teria mais meu salário de Analista de Sistemas pra custear e tinha apenas R$10 mil no banco que tinham de durar o máximo possível. Graças a um amigo e ex-colega de serviço, Daniel Castro, garanti um contrato de consultoria com a empresa dele em meio turno (Opideia), o que pagava quase todas minhas contas todo mês. Graças a outro contato, o do diretor da escola de Inglês em que estudava, João Batista, fiz permuta para não ter de largar o curso de Inglês, desenvolvendo a Intranet da Percutz nas horas vagas.

Quando acabou meu contrato de consultoria, eu havia acabado minha pós e um velho contato na Faculdade de Tecnologia de Porto Alegre (FAQI) me convidou para dar aula lá em 2013, algumas manhãs por semana, o que pagou minhas contas durante mais algum tempo. E a própria RedeHost, de onde saí, financiou o principal servidor do Busca Acelerada durante alguns anos, apenas por boa vontade de ver meu projeto avançando.

Mantenha as portas abertas.

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#2: Você sempre terá um chefe

Quando larguei meu emprego para abrir uma empresa e ser meu próprio chefe, achei que não teria mais um chefe. Ledo engano.

No momento que constitui uma sociedade limitada com o Lucas e o Adriano, meu desenvolvedor e designer-chefe, respectivamente, passei a ter 2 chefes: meus sócios. Eles cobravam resultados da startup, afinal, também haviam largado seus empregos para me “seguir” nessa empreitada.

Mais tarde, quando levantei investimento junto à Aceleradora WOW, pois não tinha mais grana para avançar com o projeto, passei a ter 57 chefes, os investidores do fundo. Obviamente não eram todos eles que me cobravam resultados, mas no mínimo uma meia-dúzia deles conversava comigo semanalmente, não somente com o intuito de cobrar, mas é inegável que esperavam resultados.

E não termina por aí, no momento que o projeto começou a ganhar a proporção que tem hoje, com meio milhão de visitantes por mês, passei a ser cobrado pelos usuários. Seja os insatisfeitos que reclamavam do que não funcionava, seja os satisfeitos que queriam mais recursos. Meio milhão de chefes.

Em 2014 nasceu mais um chefe, meu filho, que passou a controlar minha vida de certa forma, mesmo que involuntariamente.

Era muito mais fácil quando eu tinha apenas um chefe.

#3: Não proteja sua equipe

Quando me associei ao Adriano e ao Lucas fizemos um acordo: o Lucas programaria, o Adriano faria o design de tudo, e eu cuidaria do resto. Só que o resto era coisa demais.

Me senti na obrigação de manter minha parte do acordo e fiz de tudo para aprender marketing, vendas, administração, contabilidade e muito mais. Sendo que no fundo o que eu era bom mesmo era desenvolvimento e gerência de produtos.

Não faça o que eu fiz. Não proteja sua equipe. Exponha os fatos. Reorganize os acordos. Delegue o que você não dá conta. Se eles não sabem como fazer o que precisa ser feito, deixe que aprendam.

Proteger a equipe impede que ela cresça, impede que a empresa cresça e diminui sua qualidade de vida.

#4: Ser empresário é mais difícil que ser funcionário

Lendo as lições 2 e 3 isso já deve estar claro, não é?

Um empresário não tem férias, não tem décimo terceiro, não tem férias. Essa última parte foi bem difícil de explicar aos meus sócios.

Um empresário tem mais preocupações, não sabe o quanto vai ganhar todo mês, e isso no início significa não saber se vai dar para pagar todas as contas do mês, sejam as suas ou as da empresa.

Sua família vai lhe cobrar muito mais do que quando era um funcionário, e você vai ter de usar muito mais o Excel do que sua IDE favorita. Para um programador como eu, isso é bem ruim.

Talvez eu apenas não tenha vocação para ser empresário, não estou certo disso ainda. Talvez isso tudo não lhe incomode, e nem é para incomodar, apenas estou expondo os fatos.

#5: Vender bem um produto é melhor do que programar bem um software

Eu sou um excelente programador, sem falsa modéstia. Programar os melhores softwares possíveis sempre foi o meu objetivo. Achei que só isso bastaria, durante muito tempo. Mas não basta.

Você pode ter o melhor software do mundo, mas se ele não gera dinheiro, não serve para muita coisa como empresa. Foi o que aconteceu com o Busca Acelerada no final de 2014. Íamos bem como software. Dávamos conta da carga crescente de usuários, do alto volume de dados dos 80 parceiros e tudo o mais que pudesse ser resolvido com tecnologia. Mas éramos péssimos como empresa.

Não somos concorrentes dos sites de classificados, afinal somos apenas um buscador. Mas sempre me irritou o fato de que sites como o Autocarro, local aqui do RS, que tem “apenas” 50 mil anúncios, faturava centenas de vezes mais que a gente todos os meses. Não é querer pegar no pé dos caras, mas o software deles é horrível. A consulta é ruim, o próprio site é mais ou menos e tudo isso já foi pior. Ainda assim, eles funcionam de maneira excelente como empresa.

No fim do dia, se você quer ter uma empresa, seu foco deve ser vender um produto, e não construir um software. Pense nisso.

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#6: A vida é feita de altos e baixos

Certa vez ouvi em uma palestra sobre os altos e baixos da Alemanha. Potência mundial, ficou arrasada na Primeira Grande Guerra. Potência mundial sob comando de Hitler novamente, ficou arrasada na Segunda Grande Guerra. Potência mundial novamente, os escândalos recentes com a Volkswagen podem abalar seriamente seu PIB, fortemente arraigado ao forte setor automotivo.

E com as empresas não é diferente.

Quando uma startup começa, independente do seu nicho, se você faz seu serviço direito ela vai crescer. Mas não para sempre. Em algum momento seu crescimento vai recuar. Vai deixar de crescer. Vai diminuir ao invés de avançar.

Isso foi duro quando aconteceu conosco pela primeira vez, e quase acabou comigo psicologicamente. Em julho de 2013, de um dia para o outro, sem motivo aparente, nosso faturamento caiu para 1/3 pois nossas visitas caíram para 1/3. Éramos muito dependentes (e ainda somos) das visitas oriundas do Google, e quando ele mudou seu algoritmo de rankeamento, nós fomos profundamente derrubados. Sumimos do Google praticamente.

Demos a volta por cima mais tarde, repensando nossa estratégia de SEO, recriando todo front-end do site. Mas obviamente esse não foi um caso isolado e tivemos de aprender a lidar com isso. Eventualmente nosso faturamento cai, e temos de trabalhar para recuperar o que foi perdido, quiçá voltar a crescer.

Algumas empresas como a RedeHost, tem quedas sazonais. Todo ano de dezembro a início de março o faturamento cai fortemente. As pessoas saem de férias e esquecem de pagar os boletos pra manter seu site no ar. Outros empreendimentos são dependentes de situações econômicas ou “momentos” do mercado. Meu guia de Pokemon Go, por exemplo, depende deste boom que está acontecendo exatamente agora com o jogo. Em qualquer outra época, seria/será obsoleto.

Se a vida é feita de altos e baixos, o que esperar dos empreendimentos?

#7: Todos podem empreender, nem todos nasceram para ser empresários

Lembra do que falei na lição 4 sobre não saber se tenho vocação para empresário? Pois é.

Ser empresário é ter de lidar com sócios. Com clientes. Com investidores. Não gosta de lidar com pessoas? Com as expectativas dos outros? Então desenvolva essa habilidade (como eu fiz) ou esqueça.

Ser empresário é lidar com burocracias. Com folha de pagamento. Com contabilidade. Com balanços. Com Excel. Não gosta de administrar um negócio? Então desenvolva essa habilidade (como eu fiz, talvez não muito bem) ou esqueça.

Você pode empreender de diversas maneiras. Seja onde trabalha ou em um novo negócio. Mas se quiser ser empresário, o negócio é diferente. Não quero te desmotivar, apenas saiba disso antes de começar. Eu não sabia, hehehe

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#8: Cuide do dinheiro dos outros como se fosse seu

Levantei investimento-anjo com o fundo Investac, que investe nas startups aceleradas pela WOW. Cada centavo que me deram em mãos, embora não estivessem fazendo nenhum favor uma vez que se tornaram detentores de 25% do meu negócio, usei com sabedoria. Ou com o máximo de zelo que tinha capacidade à época.

Fomos frugais ao máximo, comendo em lugares baratos, nos pagando salários mínimos que dessem para pagar as contas (inclusive não pagando nada em alguns meses que tiramos dinheiro de outras fontes, como meu emprego de meio-turno como professor). Dividimos escritório com um amigo meu. Comemos muito Subway de 15cm no almoço pois os restaurantes estavam caros demais. O dinheiro do investimento tinha que durar. E durou.

Talvez não o bastante para fazer com que estourássemos. Falhamos nisso. Mas o bastante para descobrirmos que nosso modelo de negócio não parava em pé. Que precisávamos repensar toda estratégia. O que nos levou a outras lições, mas que destoariam do que quero passar aqui.

A questão é, não “queimamos” o dinheiro de ninguém. Usamos como pudemos para obter o máximo de retorno. Acabou não dando certo, mas nossa relação com os investidores foi tão boa que surgiram muitas oportunidades com eles depois que acabou nosso prazo de 2 anos para “dar retorno”. Arrisco dizer que poderíamos levantar uma nova rodada para um novo projeto, se assim quisermos. Tem um pouco a ver com o que mencionei na lição 1, sobre deixar as portas abertas, sabe?!

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#9: Tudo vale a pena quando a alma não é pequena

Esse é um ditado do Fernando Pessoa, se não me engano. Desculpem se estiver errado, tem 12 anos que não tenho mais aulas de Literatura.

Esse ditado sempre norteou minhas ações. Sabe aquele filme “Sim, senhor!” do Jim Carrey? Tem mais ou menos a ver com aquilo ali. Em certo momento tomei uma decisão parecida com a do Carl do filme e isso também mudou a minha vida. Coisas pequenas que você “abraça” sempre tem chances de se tornarem algo grande.

Não quero transformar esta lição em auto-ajuda, mas vou simplificar com dois acontecimentos no Busca Acelerada, já que é o foco do post.

Fiquei sabendo de um evento em SP para startups chamado Demo Brasil. Eu não tinha grana pra nada na época mas queria muito divulgar o Busca Acelerada lá. Dane-se, me inscrevi mesmo assim, afinal tinha um longo processo seletivo pela frente. Me pediram vídeos. Tive de preencher formulários. Me pediram decks de slides. Fui chamado. E agora? Eu poderia ter desistido, pois não tinha grana, mas disse SIM. Tinha um amigo e ex-colega de serviço em SP que me permitiu dormir na casa dele (lição 1, lembra?). O dinheiro do avião eu peguei da minha poupança mesmo. Doeu, mas valeu cada centavo. Fiz contatos incríveis lá, inclusive com investidores estrangeiros, nacionais, outras startups e deu uma exposição incrível pra gente, sendo convidado para outros eventos depois, como convidados especiais.

O outro exemplo é ainda mais incrível.

Para ganhar links pro Busca eu cadastrei nossa startup em todos os sites de startups e diretórios que pude encontrar, até nos menores como o StartupRanking. Um dia eles criaram um concurso em toda América Latina, chamado de Startup Wars Sillicon Wasi. As 5 startups de cada país que conseguissem mais votos nas redes sociais iriam para um evento no Peru com tudo pago por eles. Pois é. Fomos atrás dos votos e conseguimos passar uma semana competindo em um incrível evento de startups no Peru com empreendedores do México, Colômbia, Argentina, Brasil e Peru. Foi demais!

Já nosso cadastro no AngelList, no CrunchBase e em outros diretórios famosos de startups nunca serviram para nada. Até o momento, pelo menos… 😉

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#10: Deixe seu ego em casa, admita que falhou

Quando o dinheiro estava acabando, a equipe estava se acabando junto. Tínhamos descobrido muita coisa juntos, e a principal delas foi que nosso negócio não parava em pé. O Busca é uma startup cujo público que usa não é o cliente que pagará algum dia pelo software. Temos de usar a audiência de maneiras mais criativas para fazer dinheiro, assim como diversos serviços gratuitos o fazem. O que é bem difícil, aliás.

Em geral, modelos de negócio baseados em grande audiência precisam de grandes volumes de investimento pra conseguirem dar certo. Vide OLX, Google, Facebook, etc. Nós não tínhamos tanto dinheiro assim. No Brasil mesmo não tem tanto dinheiro disponível assim para startups desconhecidas como a minha.

Eu falhei em tornar o Busca Acelerada um grande sucesso. Pelo menos na data em que escrevo este post isso ainda é verdade. Mas eu não podia falhar com a minha equipe. Eu comecei esse negócio, eu montei a equipe. Cabia a mim terminá-la e deixar meus ex-sócios voltarem a fazer algo que fosse mais produtivo para a carreira e para a vida deles.

Conclusões

Essas 10 lições são um bom resumo do que aconteceu nos 4 últimos anos com o Busca Acelerada. Na verdade elas terminam em junho de 2015, quando aceitei uma excelente proposta de emprego para me tornar Gerente de Projetos de outra promissora startup, o Route. Sim, a lição 1 novamente.

No entanto, não é assim que tudo termina, caso contrário não estaria escrevendo este post agora. O Busca está passando por grandes reformulações. Não creio que em um futuro próximo volte a ser uma empresa com foco em “dominar o mundo”. Hoje ele é “apenas” um lifestyle business que funciona de modo automático e me remunera muito bem para ajustá-lo de vez em quando. Mas não será assim para sempre, então aguardem novidades.

E que venham os próximos anos!

Se quiser saber mais sobre como “quebrar” empresas, dá uma lida nesse outro post.

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2 Replies to “4 anos de Busca Acelerada em 10 lições”

Vitor Henckel

Muito bom. Me identifiquei com várias partes do texto… Seguimos na batalha!

Luiz Fernando Jr

Que bom que curtiu. Empreender é dureza, mas não dá pra se entregar!